"A Menina do Mar"

À semelhança do desafio de anos anteriores, o Projeto Interdisciplinar em Design I ambicionava, com base no texto “A menina do mar” de Sophia de Mello Breyner Andresen e na articulação deste com o espaço envolvente, a construção de objetos vestíveis de carácter performativo que permitam funcionar no todo ou em particular como identidade individual. No que se refere ao “espaço envolvente”, cada grupo tinha a liberdade de escolher um espaço/ambiente selecionado de entre o centro da cidade de Guimarães
Neste sentido, cada aluno desenvolve um módulo (de volume equivalente a 2m3), sendo os materiais/tecnologias de produção completamente livres e da responsabilidade dos grupos. Pretendia-se não só criar um trabalho pluridisciplinar que aplica o conhecimento de cada Unidade Curricular, como a construção de uma consciência coletiva de identidade e cultura na construção de peças vestíveis, explorando a relação do corpo/movimento, as suas proporções e interações.
Espera-se desta forma construir no final uma apresentação interativa, ponto de partida para uma formação criativa e aberta aos sinais dos tempos.


Mais uma vez, os nossos aspirantes a designers surpreenderam-nos com peças maravilhosas.

Grupo 1 - Espaço: Paço dos Duques de Bragança
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	Temporal | Caos A peça vestível incorpora os conceitos Temporal | Caos e tem como inspiração a noite de tempestade na praia, descrita no conto A Menina do mar. O objetivo principal da peça é transmitir aquilo que o seu próprio conceito indica, caos, confusão e até mesmo, um certo tenebrismo. Foram utilizados cerca de quarenta sacos plásticos pretos trabalhados sobrepostos uns aos outros, criando uma maior dinâmica visual ao objeto. As formas irregulares e ondulantes da peça forma adquiridas através do trabalho com o plástico e inspiradas também em objetos específicos do Paço dos Duques (molduras em talha dourada de pituras e espelhos). Assim como em todas as outras peças do grupo, a cor azul está presente no conjunto da peça, sendo que na peça Temporal | Caos, ela se encontra no acessório de cabeça, todo este feito em arame e pintado de azul respetivamente.
	Calmaria | Paz A peça vestível incorpora os conceitos Calmaria | Paz e tem como inspiração a manhã calma, descrita no conto A Menina do Mar. Neste conceito, utilizaram-se materiais e estratégias que transmitissem a sensação de espiritualidade e proteção, através da cor branca (sabedoria, pureza), da utilização do não-tecido (forma cónica e de “pequenas ondas”), dos cd’s (inspiração no reflexos presentes no Paço dos Duques) e do véu e da estrutura da cabeça (proteção do poder). Todos estes aspetos estão associados a elementos como, a manhã, o céu, a luz e o mar, característicos deste conceito.
	Deserto | Vazio A peça vestível que incorpora os conceitos Deserto | Vazio, inspirada na praia deserta descrita no conto A Menina do Mar, é constituída por uma estrutura feita de rolos de papel e por uma peça de cabeça construída com fios de trapilho azul. A estrutura de rolos de papel tem a função de representar o vazio através dos orifícios que estes apresentam e juntamente com o azul do trapilho encontra-se a praia representada. Este objeto vestível foi também inspirado no claustro do Paço Ducal, pela sua grandiosidade bem como pelas suas linhas limpas.
	Abundante | Repleto | Preenchido | Rico A peça vestível que incorpora os conceitos Abundante | Preenchido tem como inspiração o Fundo do Mar, descrito no conto A Menina do Mar. Neste conceito, foram utilizados materiais e estratégias que transmitissem a sensação de abundância e riqueza de elementos presentes descritos na passagem da obra, através da variedade de cores (inspiração nos vitrais do Paço Ducal) e de formas (anémonas, corais), da utilização de imensos materiais (algas, conchas, ouriços), é de salientar, uma cortina de porta (inspiração nas algas). Sendo que, todos os aspetos estão associados a elementos como, a floresta de algas, mar, corais e anémonas e as conchas.
	Ditadura | Maldade | Tirania A peça vestível que incorpora os conceitos Ditadura | Tirania | Maldade, apresenta como inspiração a personagem da Grande Raia, do conto A Menina do mar. No espaço envolvente, o Paço dos Duques, a inspiração recolhida deu-se na sala nas armas, onde estão presentes inúmeros elementos bélicos. O objeto é feito em anilhas de refrigerantes que unidas entre si parecem uma cota dos soldados, remetendo para a inspiração do Paço Ducal. Para representar a toda a maldade da Raia, a base de todo o objeto é preta e apresenta extremidades pontiagudas que também se podem associar às armas presentes na segunda inspiração. Foram também usadas caricas para formar uma cauda para uma maior aproximação da morfologia da raia. Tal como as restantes peças do grupo, esta apresenta a cor azul no interior da peça inferior, bem como é construída na sua totalidade por material sustentável (anilhas).
	Compreensão | Bondade | Dignidade A peça vestível que incorpora os conceitos Compreensão | Bondade | Dignidade, apresenta como inspiração a personagem do Rei do Mar, do conto A Menina do Mar. Transmite a espiritualidade da personagem através da utilização de formas arredondadas e espiraladas, da luz (inspiração recolhida no espaço envolvente, Paço dos Duques), bem como através da utilização da cor verde (cor da esperança) e da desconstrução da mão, na parte superior da peça.

Grupo 2 - Espaço: Igreja de São Francisco
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	Amizade Este objeto representa a amizade, sentimento que une os indivíduos, em analogia também as ondas unem os elementos marítimos. Assim, esta peça procura representar essa ideia, e em simultâneo a harmonia do mar e do barroco.
	Saudade Esta peça representa a Saudade manifestada pela Menina do Mar no conto. Tendo como elementos a rosa o símbolo da saudade no conto e as lágrimas o símbolo de saudade na vida real. Certos elementos foram representados em estilo barroco para a ligação ao Convento e Igreja de São Francisco, local onde por vezes as pessoas procuram reconforto quanto sentem saudades de um ente querido que perdeu. Na peça está representada uma figura triste e fechada no seu próprio círculo de emoções trazidas pela saudade.
	Descoberta Esta peça representa a descoberta e é composta por varias partes que remetem para diferentes episódios do conto “A Menina do Mar”. Entre elas, as mais marcantes são as janelas da casa do menino pelas quais ele apreciava o mar, e o fogo que a menina do mar descobre ao ir à terra. Os restantes elementos foram inspirados pelo Convento de S. Francisco e pelos descobrimentos portugueses como a forma das naus e a talha dourada.
	Liberdade O objeto vestível exibido representa a Liberdade. Na história A Menina do Mar a Liberdade está presente no momento em que o rapazito passa a poder viver dentro de água como os peixes e fora desta como os homens. Ao idealizamos/projetarmos a peça pretendemos transmitir através das cores e matérias utlizadas essa noção a todos aqueles que a visualizem: a cor azul na parte superior da peça remete para a conceção de ser livre, as tiras de plástico dourado dão a sensação de movimento associado a imensidade das ondas do mar, a concha dourada representa os elementos marítimos e barrocos presentes no Convento e Igreja de S. Francisco e os azulejos espelham a tradição portuguesa que se pode observar na fachada do Convento.
	Sonho A peça relativa ao sonho foi construída com elementos que remetessem à simbologia do mar. Por conseguinte, a peça contém materiais que transmitem leveza e movimento como a organza, elemento comum ao grupo, bolsas e tubos com água, para que o observador pudesse interagir com a peça, e plástico, que foi a base da construção. Foi também utilizado filtro de exaustor, que simboliza as nuvens, lugar que só atingimos nos sonhos, e as bolhas de sabão como algo mágico, assim como o frasco de poção mágica, presente na história. A concha, feita com fibra de vidro, está também presente por ser um elemento marítimo, e por fazer parte dos elementos barrocos presentes no Convento de S. Francisco. Os azulejos, que foram feitos com CD partidos e com um stencil, estão também presentes e fazem parte das escamas recortadas na parte de cima da peça. Foram colocados desta forma para que simbolizasse a tradição portuguesa como algo que está na nossa pele.
	Opressão Este objeto representa a opressão da qual é um conceito dinâmico porque tens 2 envolvidos: o opressor e o oprimido. Ambos estes envolvidos estão representados na peça, os oprimidos pela rede que tapa a cara, e o opressor pela coroa, símbolo de poder e força. Nesta peça há também inspirações no barroco, referente á talha dourada e aos azulejos encontrados no convento de S. Francisco.

Grupo 3 - Espaço: Palácio de Vila Flor
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	Menino O menino representa o sonho de conhecer o mar e a união entre o sonho e a realidade, daí estar preso a uma almofada. Em geral, os objetos vestíveis pretendem mostrar o sonho do menino, daí ele ter nas suas mãos uma esfera que contem os elementos do seu sonho (a menina, os fósforos, a rosa e o vinho). Símbolo da inocência e do sonho em geral.
	Menina A menina representa o mar e o sonho de conhecer a terra. Aparece como uma bailarina e como uma marioneta, uma vez que é a dançarina da raia e está “presa” a esta. Simboliza a cultura do palco (barroco) através da dança e do espetáculo.
	Rosa A rosa aparece como uma rosa no nevoeiro, representa a natureza (elemento da terra) e o mistério por detrás do sonho. A névoa em seu redor pretende mostrar quer o sonho quer o nevoeiro nos jardins da manhã. Símbolo de fidelidade, paixão ou romance de uma pessoa.
	Vinho O vinho representa a alegria do sonho, e aparece a derramar de um copo invertido. O copo de vinho simboliza alegria, comemoração, prosperidade, bom presságio para conquistas de bons momentos na vida. Também pode ser o símbolo de uma ocasião feliz.

Fogo O fogo representa o mistério do sonho. É representado como a chama apagada, resultando em carvão e fumo. Simboliza transformação, passagem, renascer.

Grupo 4 - Espaço: Monte da Penha
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	Raia Símbolo de poder e arrogância, a Raia simboliza o impedimento da amizade entre as duas personagens principais. Deste modo a peça é composta por vários semi-arcos com leds na ponta (que remete ao peixe Ser Abissal, o qual caracteriza muitas vezes o mal no meio aquático), por picos na zona dos ombros, intensificando a ideia de agressividade, por uma gola e coroa que simbolizam o respeito e imponência, e por uma espécie de luvas vermelhas, que realçam os maus atos da Raia.
	Rei Ao contrário da Raia, esta personagem apesar de também ser um símbolo de poder, utiliza isso para praticar o bem, permitindo o reencontro e união do menino e da Menina do Mar. A peça transmite harmonia e serenidade através dos seus arcos horizontais, das cores azul e branco que para a autora são símbolo de paz e conforto, e dos materiais de carater visual suave.
	Peça Poção A Poção é inspirada no suco de anémonas, presente no conto, que permitiu que o menino fosse viver para o mar, ficando junto da Menina do Mar. Por esta razão a peça simboliza a magia, a união, o sonho e a amizade.
	Peça Refúgio O Refúgio é inspirado na casa branca e na praia, presentes na obra, sendo estas a zona de conforto da autora, Sophia de Mello Breyner. Desta forma a peça simboliza a proteção, conforto, o mar e a própria casa branca na praia.
	Menina Sendo a Menina e a sua dança uma parte fulcral para o desenvolver do conto, esta está representada numa peça, onde se pretende retratar a seguinte passagem retirada da obra: Então a menina saiu da água, subiu para uma rocha e principiou a dançar. E a água junto dos seus pés ia e vinha e bailava também. Deste modo a peça é sobretudo formada por vários folhos, caracterizando as ondas do mar e o movimento da água a dançar-lhe junto dos pés.

Grupo 5 - Espaço: Convento de Santa Clara
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	Fogo Descrições contraditórias como a alegria e o perigo predominam na caracterização do fogo.
	Vinho Alegria, inocência da infância, outono, o sabor áspero, mas suave, o seu movimento fluido, tudo inspirou a realização do objeto vestível "Vinho", um dos presentes oferecidos pelo menino à menina do mar.

Balde Descoberta, persistência, amizade, evolução, prisão e liberdade é a simbologia presente no balde oferecido pelo menino. E vou ver a tua casa e vou ver o teu jardim e vou ver passar os comboios (….) as florestas e todas as coisas que me contaste. (Andresen, S. d. M. B., 1958. A menina do mar. s.l.:Porto Editora.)

Rosa “- Eì um perfume maravilhoso. No mar não há nenhum perfume assim. Mas estou tonta e um bocadinho triste. As coisas da terra são esquisitas. São diferentes das coisas do mar. No mar há monstros e perigos, mas as coisas bonitas são alegres. Na terra há tristeza dentro das coisas bonitas.” (Andresen, 1958). Esta foi a inspiração para o objeto vestível da rosa.

	Raia Poder, maldade, domínio total do mar e das suas criaturas e o impedimento de um sonho. Tudo isto numa única e singular personagem, a grande raia.
	Frasco de suco de anémonas Liberdade, amizade, mar e transformação, representam o frasco de suco de anémonas, oferecido ao menino para finalmente realizar o seu sonho, de se reencontrar com a Menina do mar.

Grupo 6 - Espaço:Cineclube
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	Sonho Os sonhos, para além de mágicos são confusos e incertos. Deste modo, a peça sonho representa estes dois conceitos através das suas formas complexas e irregulares. Para além disso, é de salientar a delicadeza, a magia e a fantasia que os íntegra.
	Saudade A saudade é um sentimento característico do povo português e da sua cultura. É uma sensação agridoce, quando sentimos a dor causada pela tristeza da memória. No entanto é uma memória que nos é querida e nos traz conforto.
	Mistério O Mistério é algo secreto, de significado ou causa oculta. Pode estar aliado ao medo, contudo nem sempre é assim pois a vontade de descobrir tudo o que está para além da nossa posse e conhecimento, a curiosidade de desvendar novos mundos e novas formas de vida transmitem positivismo..
	Amor Através do delicado rendilhado vermelho da peça, procura-se transmitir a essência do Amor- o sentimento mais forte, puro, verdadeiro e belo que o ser humano pode sentir.
	Medo O que mais salta ao olhar nesta peça são os elementos pontiagudos, estes que retratam bem o medo. Pois fere e pode deixar marcas.
	Coragem A coragem consiste na capacidade de agir apesar do medo, do temor e da intimidação, sendo esta uma das maiores virtudes humanas. É pela coragem que se tomam atitudes e se diz sim ou não sem demoras. Com isto, esta peça está associada à força, poder e ousadia, e é aqui que torna-se notável a sua presença no conto “A menina do Mar”.